Temos conseguido, há cerca de um ano para cá, registos históricos na natação sincronizada, com a barreira psicológica (e real) dos 70 pontos a ser várias vezes ultrapassada. Aconteceu de novo no Europeu Júnior, no último fim de semana em Belgrado, com a promessa (e certeza) Maria Beatriz Gonçalves a alcançar pontuações históricas que lhe valeram o 14.º lugar em solos.
Se por um lado Portugal tem razões para sorrir porque está a fazer um trabalho que está a dar frutos a nível de seleções, por outro não deve embandeirar em arco já que o fosso para as grandes potências se mantém a uma distância considerável. E se subirmos para o degrau das seniores, essa diferença aumenta.
Mesmo assim, os números estão à vista e são inegáveis. Há um plano, há ideias, há motivação, há resultados e muita vontade de melhorar. A aposta na sincronizada é evidente e o presidente António José Silva tem o seu mérito. E fê-lo com um gesto simples: deu oportunidade de a disciplina se afirmar.
Como? Se a natação pura, o polo aquático e as águas abertas participavam em competições internacionais de relevo, por que raio é que a sincronizada não tinha o mesmo direito?
Andámos, anos e anos, a entreter a sincronizada em participações nas COMENs ou em provas sem peso internacional, destinadas a escalões de formação, e não saíamos disto. Se os amantes do polo aquático acusavam a Federação de a modalidade ser o parente pobre, o que poderia dizer quem gostasse de natação sincronizada.
Este projeto “revolucionário” iniciou-se em 2013, muito por força de Manuel Freitas, dirigente nessa altura e um apaixonado pela modalidade, em conjunto com Gabriela Cierco e Marta Martins. O desenho estava traçado, mas tudo podia ter ido por água abaixo com o fracassado projeto olímpico da Murtosa ou com as trocas constantes de selecionadoras num só quadriénio. Roma e Pavia não se fizeram num dia, quis-se ir demasiado rápido com a louca ambição de um apuramento para os Jogos do Rio de Janeiro de 2016.
Era necessário redesenhar uma nova estratégia, mas seguindo uma linha mais pausada, de passo a passo, sustentável. E esse ritmo foi adotado por Miguel Miranda e Mariana Marques. E bem.
Em 2015, Portugal participou, pela primeira vez, num Mundial de Absolutos e no ano seguinte no Europeu, com a fasquia dos 70 pontos a ser derrubada pela primeira vez e a Seleção Nacional a obter o oitavo lugar coletivo.
As participações nestas competições implicam mais trabalho dos clubes, mais estágios promovidos pela FPN. Trazem mais visibilidade, mais gente para a modalidade. Esse é o caminho.
É importante também estar ciente que quanto mais elevadas foram as pontuações, a exigência também aumenta e por isso, quando baixarmos o nível que atingimos, também devemos assumir essa falhas.
Esperemos que, acima de tudo, estes positivos resultados possam catapultar o número de praticantes e clubes de sincronizada no nosso país que, nos últimos anos, têm tido um crescimento muito tímido. Os resultados internacionais só fazem sentido se tivermos mais atletas a praticar natação sincronizada.
E cuja nova designação – natação artística – seja também um sinal para que a modalidade se fortaleça contra as ameaças de extinção olímpica. É caso para dizer que desejamos uma nota artística já no próximo Mundial!